Por Gilberto Dimenstein
Gostar de São Paulo não é para iniciantes. Impossível amor à primeira vista. Requer aprendizado, paciência e, como todas as paixões, disposição à entrega. Nada parecido com o Rio, onde basta uma rápida olhada na paisagem e caímos de joelhos, rendidos pela beleza óbvia e unânime; o Rio é uma mulher estonteante e devoradora. Humilhante até.
São Paulo é a mulher arredia, desprezada pela falta de exuberância natural, a ser conquistada todos os dias. Exige o olhar da sutileza fotográfica, quando se capta o ângulo e enxerga-se a essência pelo detalhe.
À primeira vista o que vemos é o que não gostaríamos de ver. Sentimos o que não queremos sentir; acuados diante do caos, da insegurança de ficar presos no trânsito ou de cair na mão de assaltantes, que deveriam estar presos.
A poesia desta cidade não está na paisagem geográfica, mas na paisagem humana. Vivemos aqui o confronto ente o caos urbano e a riqueza humana.
Ser paulistano é ter medo, mas, ao mesmo tempo sempre ter um projeto para sonhar e desenvolver; nossa história é feita da coleção de pequenos sonhos de imigrantes e migrantes.
O ser humano é a única paisagem que nos sobra, tirando da perversa falta de urbanidade uma poesia de humanidade.
Gosto de São Paulo – aliás gosto muito – porque vejo nela a aventura de ser desafiado pelo caos urbano, mas seduzido pelo humano.
É uma mulher que não nos atrai pela sensualidade, mas pelas histórias de aventura de quem viveu e vive de sonhos.
Gostamos dessa mulher quando nos sentimos parte de suas histórias, aventuras e sonhos.
E, então, como esses fotógrafos, encontramos o ângulo da beleza.
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