Quando o governo federal adotou medidas de incentivo à indústria automobilística com a desoneração do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para aquisição de novos carros particulares, muito se falou sobre o reaquecimento do mercado, do aumento dos índices de emprego no setor. Não podemos negar a capacidade geradora de emprego -e renda- que a cadeia produtiva do setor automobilístico proporciona, mas é preciso ponderar até quando iremos apoiar este modelo de política pública sem nos preocuparmos com a questão da mobilidade urbana.
O gestor público, quando incentiva o acesso ao automóvel privado, enfraquece e deses- timula a busca da população por equipamentos de transporte público. Dessa forma, são gerados efeitos negativos que fortalecem uma tendência insustentável nas ruas de todo o pais.
A mais recente demonstração dessa política em prol do transporte particular é a construção de túneis que interligarão as avenidas Sena Madureira e Ricardo Jafet, na Zona Sul da capital paulista, ao custo orçado em R$ 219 milhões, de acordo com a Prefeitura de São Paulo. O consórcio Queiroz Galvão/Galvão Engenharia venceu a licitação e os recursos devem ser liberados no ano que vem. A proposta é facilitar a ligação entre as regiões Sul, Sudeste e Sudoeste da cidade, além de melhorar a integração com o ABC paulista.
Sem dúvida, obras de engenharia de tráfego são imprescindíveis para melhorar o trânsito numa cidade do tamanho de São Paulo. Ocorre que, somente com o equilíbrio de programas diretamente envolvidos na mobilidade urbana sustentável seremos capazes de avançarmos no que se refere ao transporte público .
É preciso que os governos ousem com a elaboração de projetos de corredores estruturais de transporte coletivo, de sistemas de circulação não motorizada (passeios, passarelas, ciclovias), de acessibilidade para pessoas com restrição de mobilidade e deficiência, e a implementação de intervenções viárias mais sustentáveis com medidas para integrar o transporte público.
Carros particulares são necessários e desejados, porém o convívio destes nas vias públicas precisa ser equilibrado com as demais possibilidades de mobilidade urbana. Equilíbrio é fundamental!