No metrô mais lotado do mundo, até o barulho tem dificuldades para entrar. Esta foi uma das principais conclusões que a reportagem do Urbanias teve ao viajar pelos trilhos subterrâneos de São Paulo, acompanhada do medidor de ruído.
Quinta-feira, 18h. Para embarcar na estação Barra Funda, é preciso esperar dois ou três trens passarem. Logo depois das plataformas, a composição entra no túnel. E é nestes momentos que o ruído fica mais forte.
Na hora do rush, quando cada parte do piso é disputada, foram registrados 87 db de barulho. Isso porque as pessoas dentro do vagão acabam impedindo a propagação do som. Já no fim de noite, com o metrô vazio, nosso medidor registrou pico de 106,4 decibéis, neste mesmo trecho.
Durante o pico de usuários do começo da noite, nosso medidor também viajou pelas linhas 1 e 3, e registrou média de 80 db nas viagens. Na Sé, nos momentos em que os avisos da estação são passados, o barulho alcançou 102,7 db. No piso mais alto desta estação estava sendo encenada uma peça de teatro, parte do projeto Seis na Sé, que apresenta diariamente espetáculos no primeiro piso da estação. Os atores usavam microfones para serem ouvidos, e o som também passava com frequencia dos 100 db: o recorde registrado, em 10 minutos na platéia, foi de 104,7 db.
Existem limites máximos para a exposição ao barulho. Segundo a Consolidação das Leis do Trabalho, o funcionário pode ficar até 8 horas exposta a 85 dBA. A cada 5 dBA a mais, este tempo cai pela metade. A 90 dBA, a exposição permitida é de até 4 horas por dia, por exemplo.
“Até 80 dBA é seguro, mas pode variar de pessoa pra pessoa”, considera Ana Cláudia Fiorini , fonoaudióloga da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia e professora doutora da PUC.
Um usuário cadastrou uma demanda no Urbanias questionando sobre os riscos do barulho no metrô. Leia a resposta aqui.
A perda auditiva induzida por ruído é uma doença crônica, causada pela exposição continuada. Ela é percebida a partir de 2 anos de exposição, e não pode ser revertida, mas apenas compensada por aparelhos de surdez.
A fonoaudióloga Mariangela Vanzim, do Centro Auditivo Telex, explica que, assim como no caso da visão, a perda de audição ocorre em graus diferentes. O ouvido pode perder a capacidade de ouvir os sons agudos, por exemplo, e continuar ouvindo os graves. “É o caso da pessoa que escuta o que a outra fala, mais não entende, pois não consegue ouvir os sons agudos da voz”, detalha.
Além dos problemas para ouvir, as especialistas explicam que o excesso de ruído também provoca outras alterações no organismo: diminui a concentração e a atenção, aumenta o nervosismo e o estresse, gera perda de sono. Com tudo isso, a irritabilidade é bastante frequente.
“É um problema de saúde pública. Todo mundo tem um alto grau de exposição, maior ou menor. As pessoas precisam conhecer a lei, e depois usar protetor”, diz Ana Cláudia.
----------------------------------------------------
Embarque na leitura
Na estação Paraíso, desde 2004, o metrô mantém uma pequena biblioteca, parte do programa Embarque na Leitura, que mantém estes espaços também em outras estações. Ao lado do quiosque, algumas mesas ficam à disposição para quem quiser começar a ler seu livro emprestado na mesma hora. Quem sentar ali, terá como companhia um volume médio de 80 db, enquanto que em uma biblioteca "tradicional", o som não passa de 40 db.