O outro lado da ponta na Coleta Seletiva

Postado em 23.6.10 por Rafael Balago |





Nas últimas semanas, o Urbanias recebeu diversas reclamações sobre falhas na coleta seletiva realizada porta a porta pela Prefeitura, ocasionados principalmente devido ao esgotamento da capacidade das cooperativas em receber os materiais. No texto abaixo, Cristiano Maciel, especialista pós-graduado em Gestão Urbana, analisa o problema, detalhando suas causas e consequencias.


 


O que causa?

A coleta seletiva, tão propagada nos últimos anos como a mais nova vedete das políticas públicas, está sendo questionada por não conseguir, em muitos casos, concluir o ciclo. Ou seja, transformar o resíduo coletado em um novo produto e promover a emancipação social dos catadores.
Não ter um programa com uma logística favorável a todos os agentes cooperados é um dos principais gargalos no que tange à ponta final da coleta seletiva.
A prática da separação dos resíduos orgânicos (restos de alimentos, cascas de frutas, legumes, etc) e dos resíduos inorgânicos (papéis, vidros, plásticos, metais, etc) facilita a reciclagem porque os materiais, estando mais limpos, têm maior potencial de
reaproveitamento e comercialização. No entanto, muitos são os flagrantes de materiais com grande potencial de reaproveitamento serem misturados aos resíduos orgânicos nos lixões e aterros sanitários espalhados pelo país.
O que alimenta o descrédito da população, muitas vezes empenhada e militante da causa ecológica, é ver o empenho em separar os resíduos e disponibilizá-los à coleta seletiva, ir literalmente para o LIXO.

Quais são as conseqüências?

Por mais que seja divulgada e incentivada, a coleta seletiva corre o risco de ser mais uma boa idéia que não conseguiu evoluir e se tornar uma realidade nas nossas cidades. A falta de um resultado recompensador , como a percepção dos cestos de lixo sem resíduos sólidos, a pouca valorização dos catadores, ou uma fraca participação do poder executivo municipal, desmotiva qualquer pessoa interessada em colaborar no processo.
Um outro fator importante é que não temos, ainda, uma consciência coletiva sobre as oportunidades econômicas existentes na redução do montante de resíduos sólidos, seus custos e passivos ambientais .
Além de preservar e recuperar o meio ambiente, com o melhor aproveitamento na coleta do lixo da cidade, a conscientização sobre a importância da reciclagem gera empregos, mantém a cidade mais limpa e estimula a cidadania.
A coleta seletiva tem sido apresentada como uma das melhores soluções
para a redução do lixo urbano, sendo assim a mais indicada, pois economiza trabalho na captação e triagem, além de melhorar a qualidade dos itens a serem reciclados.
É um desejo coletivo retirar da paisagem urbana os estoques aglomerados de entulhos e lixo das ruas. Porém, não basta as pessoas colaborarem, se o montante destinado à coleta seletiva for tratado como lixo comum, sem valor.
Além do valor comercial que os resíduos sólidos possuem, é preciso estabelecer um valor ao serviço cívico que cada cidadão realizou ao determinar que na sua residência, no seu lar, no seu bairro, não haverá mais envio de material com potencial de reaproveitamento para o lixo.


Como resolver?


É preciso investir em educação ambiental tanto nas escolas, quanto nos bairros e, principalmente para os catadores desse tipo de material. O poder público tem a sua parcela de culpa no fraco desempenho da coleta seletiva quando não fornece caminhões especiais para a coleta apropriada do material, além de não fomentar uma maior profissionalização de cooperativas de reciclagem nas cidades.
É fundamental que o poder público aprimore o recolhimento para ampliar a coleta seletiva realizada na porta da casa dos moradores. Uma boa solução seria a ampliação do número de caminhões-gaiola, uma melhor distribuição de centrais de triagem nas principais regiões da cidade e, principalmente, não permitir a compactação do material coletado durante o transbordo. Assim, havendo mais centrais de triagem espalhadas pela cidade, os circuitos de coleta seriam mais curtos, diminuindo a necessidade da prensa. De novo, voltamos a questão da falta de logística.
A motivação para a implantação de coleta seletiva reúne vários aspectos. Porém, a escassez de áreas para aterros, freqüente em regiões metropolitanas e litorâneas, muitas vezes faz com que um município precise destinar seus resíduos a outro município, encarecendo o custo de transporte e disposição, aumentando, assim, a motivação econômica para a implantação da coleta seletiva.
A indagação que se faz é: o que fazer após separar os resíduos sólidos? Estabelecer uma política de logística reversa é um caminho para trilharmos a solução desta questão sobre a ponta final da coleta seletiva.
Sabemos que os resultados da reciclagem são expressivos tanto no campo ambiental, como nos campos econômico e social.
Para atendermos tanto aos ideais ecológicos, sociais e econômicos , a melhor solução seria combinar meio-ambiente e resultado financeiro de tal forma que tanto as diretrizes do meio-ambiente quanto o resultado financeiro sejam satisfatórios. Ou seja, é necessário que os resíduos coletados sejam dotados de um valor que compense aos catadores se organizarem e recolherem o material estocado em cada esquina, em cada cesto de lixo de um condomínio, de um restaurante, de um supermercado. No âmbito social, os ganhos recebidos pela sociedade poderão ser mensurados na oferta de uma modalidade de emprego à um perfil da população desprovida de capacitação profissional e renegado pelo mercado.
Portanto, valorizar as ações comunitárias de apoio à coleta seletiva é o primeiro passo para resolvermos este processo que tem um começo, um meio e vários fins!


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