O trânsito que mata pelo ar

Postado em 8.6.10 por Rafael Balago |

Saúde e trânsito. Esta relação, muitas vezes letal, foi debatida ontem na Câmara Municipal. O Urbanias esteve lá, e registrou o encontro. Confira abaixo algumas informações que merecem destaque:

O trânsito afeta a saúde de várias formas. A boa notícia é que uma delas, a poluição, depois de uma queda entre 1995 e 2005, se mantém estável desde então. Segundo Henry Joseph, Presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente, da associação de fabricantes de veículos, a Anfavea, os carros fabricados hoje poluem até 44 vezes menos do que os modelos de 1985, ano em que foram estabelecidas metas federais de redução dos poluentes. Joseph mostrou que 34% dos carros do país respondem por mais de 80% da poluição de origem automotiva, pois a idade média dos carros é de 12 anos. “Um veículo antigo (de 1985) polui o equivalente a 28 atuais”, comparou. Além do aprimoramento dos motores e estruturas dos carros, outra medida que colaborou para esta redução foi a mudança nos componentes dos combustíveis: partes altamente poluentes foram retiradas da gasolina.

Paulo Saldiva, médico patologista e coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, lembrou que esta evolução tecnológica capaz de reduzir a poluição está chegando perto do seu limite. “Não dá pra fazer um veículo mais limpo que isso”, afirmou. Ele chamou a atenção para os efeitos da poluição, que atinge mais os “extremos da idade”: bebês, crianças pequenas e idosos. E os mais pobres. “A dose de poluição recebida varia. Mas quem recebe mais? O motorista dentro do carro com ar condicionado ou quem está no ponto de ônibus?”, apontou. Saldiva lembrou também que as pessoas na base da pirâmide social acabam sofrendo mais com o problema porque moram em casas com paredes mais finas, e geralmente mais perto das vias de tráfego. Para fazer o Rodoanel, foram anos de análise de impacto ambiental. Já para fazer uma nova avenida, não há avaliações sobre o impacto que a poluição terá nas pessoas que moram nas próximidades. Precisamos nos preocupar em proteger também os seres humanos”, disse o médico.

Além de matar 4 mil pessoas por ano e causar problemas respiratórios, a poluição também interfere na taxa de fertilidade: quanto mais poluído o ar, maior a chance de nascerem meninas, pois o material genético que dará ao feto o sexo masculino tem mais dificuldade de sobreviver nestas condições, segundo Saldiva No mundo, grande parte das mortes por inalação de gases poluentes acontecem em casas que tem fogão à lenha. “E por aqui, quem mora nas favelas queima lixo pra se esquentar”, completou o coordenador.


Menos velocidade, menos mortes, mais traumas











Devido ao aumento do trânsito, a velocidade média dos veículos caiu, e o perfil dos acidentes também mudou. “Com menos velocidade no trânsito, acontecem menos mortes e mais traumatismos”, disse Tomaz Puga, coordenador da Comissão de Projetos do Conselho Diretor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas. Outra mudança em curso, o aumento do número de idosos na população, trará incremento do número de atropelamentos, pois haverá mais motoristas com menos capacidade de visão e de reação rápida, considera Puga. Seu departamento no HC atende cerca de mil casos por ano de acidentados no trânsito. Destes, 550 são motociclistas e 150 precisam de cirurgias. “Metade dos mortos no trânsito estão fora dos veículos”, destacou Mauro Augusto Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, a Abramet. “No Brasil, são 20 mil mortes por ano no trânsito. Na Guerra do Vietnã, morreram 40 mil em 10 anos. É uma guerra surda, invisível, da qual a população não foi informada”, comparou Puga.

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